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Soja encurta o ciclo e traz ganhos ao produtor. Será?

Nem todo mundo sabe, mas quando começou a ser plantada no Brasil a soja chegava a demorar 150 dias para ficar no ponto da colheita. Eram cultivares vindas dos Estados Unidos, onde o clima é temperado, bem diferente da maior parte do Brasil. E nem se imaginava que um dia esta planta faria o milagre do Cerrado brasileiro.
Com o passar do tempo, o melhoramento genético adaptou a soja para o clima tropical, mas ainda assim, os ciclos eram longos. Foi um trabalho duro de diferentes institutos de pesquisa que, finalmente, foram encurtando o ciclo do nosso grão de ouro, que tantas divisas traz para o Brasil.
O fato é que hoje há quem encontre cultivares muito produtivas com ciclo de menos de 85 dias! Verdade, isso tem ocorrido principalmente no estado de Tocantins.
Vantagem para o produtor que consegue plantar a segunda safra de milho com mais tranquilidade, sem dúvida. Mas o manejo... esse sim tem que ser bem cuidado! A janela ficou apertadíssima, portanto, qualquer descuido pode comprometer algumas etapas essenciais para garantir a sanidade e a produtividade da soja.
Conversamos com especialistas em soja para trazer um pouco mais desta história e de recomendações ao produtor no que se refere ao ciclo da soja.
O professor doutor Fernando Juliatti, que atualmente é consultor da Aprosoja Brasil e diretor geral de pesquisa da empresa Juliagro, explicou que a adaptação da soja brasileira ao Cerrado exigiu o encurtamento do ciclo em função das oportunidades do plantio de uma segunda safra, primeiramente do milho e hoje também com diferentes áreas de algodão.
"Quanto mais precoce for a cultivar, melhor para o milho ou para a segunda safra de algodão”, diz ele, “já que desta forma é possível aproveitar melhor a distribuição das chuvas".
Um segundo fator foi determinante para os esforços em deixar mais curto o ciclo da soja, de acordo com Juliatti.
"Foi quando chegou a ferrugem asiática no Brasil, em 2002, quanto mais tardia for a cultivar, com ciclo mais longo, maior é o risco da ocorrência da ferrugem, com mais perdas, e maior é o número necessário de aplicação de fungicidas", explica o especialista.
O engenheiro agrônomo Décio Shigihara, suporte técnico da Satis, concorda que o ciclo longo que era visto 20 anos atrás favorecia maior ocorrência de pragas e doenças na soja.
“Mas o outro fator, claro, é o econômico, para melhor uso da terra, o encurtamento do ciclo permite o cultivo da segunda safra, no inverno”, diz.
Ele lembra que, com a prática do plantio direto, mesmo que não esteja tão atrativa a cultura do milho, ela é importante em função da palhada, de melhor qualidade, que ajuda na produção de soja.
O ciclo médio de soja no Brasil atualmente é estimado entre 110 e 120 dias.
Porém, como comentamos anteriormente, há regiões do Tocantins com menos de 85 dias.
Os ganhos são evidentes, além de melhor aproveitamento da terra, apesar de ter encurtado o ciclo, a produtividade não foi afetada.
“Quando se plantava soja de 150 dias a produtividade era de 40 sacas/hectare, hoje com 110 dias se colhe até 100 sacas/hectare", reforça Shigihara.

Pontos de atenção

Apesar dos benefícios, o encurtamento da soja traz também alguns pontos de atenção.
"Você precisa ser mais assertivo agora, quando o ciclo era longo, dez dias para frente ou 10 dias antes para fazer determinado manejo era algo que não mudava muita coisa, agora é diferente", diz o agrônomo.
O que ocorre é que a janela é mais curta. Se antes o produtor tinha 10 dias para aplicar determinado fungicida, por exemplo, agora ele tem somente 4 dias recomendados para fazer este manejo.
“No caso da nutrição torna-se ainda mais importante escolher produtos de melhor absorção, que sejam mais eficientes", afirma Décio.
Ele explica que quando o produtor perde a janela ideal das aplicações corre o risco de ver a soja “travar e amarelar”.
O consultor Fernando Juliatti lembra também que os ciclos longos tendem a produzir mais se houver estresse hídrico. “Mas hoje ninguém mais quer soja tardia, porque o produtor tem o zoneamento climático, pode tomar as melhores decisões com o ciclo mais curto e a margem de erro fica muito pequena”, destacou.
Para minimizar esta “desvantagem” do ciclo curto, segundo Juliatti, basta ter cuidado com a qualidade do solo, especialmente com a palhada no sistema, para reduzir o consumo e manter a umidade.