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Safra de algodão: produção brasileira deve crescer quase 18%

A safra de algodão 2022/2023 já está sendo plantada e a produção pode ficar próxima de 3 milhões de toneladas. O aumento na área plantada é o principal motivo para a expectativa de uma colheita maior, mas o entusiasmo visto ao longo de 2022 já vem sendo substituído pela cautela dos produtores, em meio às incertezas do mercado internacional.

A Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa) chegou a projetar há alguns meses que a área cultivada com a pluma na temporada 2022/2023 chegaria a 1,78 milhão de hectares, mas acabou revisando as estimativas e em dezembro previu 1,66 milhão de hectares. Ainda assim, haverá um avanço de 1,3% em relação à safra 2021/2022. Com isso, a produção foi projetada em 2,94 milhões de toneladas, 17,6% acima da safra anterior.

O produtor de algodão do oeste da Bahia, Julio Busato, que até o final de 2022 era presidente da Abrapa, explica que, apesar da alta nos custos de produção, estimada em 50% para esta safra, a maioria dos agricultores seguiu investindo devido às características específicas da cotonicultura. “Os investimentos podem demorar até 5 anos para gerar retorno financeiro, em função do preço muito elevado das máquinas utilizadas no algodão e também dos insumos”, disse ele. Busato admitiu uma redução média de 15% no uso de fertilizantes fosfatados e potássicos, em função dos preços em patamares elevados no momento em que o produtor adquiriu estes insumos – nos últimos meses os preços destes produtos vêm caindo. Na avaliação do dirigente da Abrapa, havia reserva destes nutrientes no solo, o que permitiu ao produtor reduzir investimentos sem prever nenhum dano significativo para a produtividade média, que deve permanecer dentro dos patamares históricos.

Até o final de novembro, os estados de São Paulo, Goiás, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais e Bahia haviam iniciado o plantio da safra de algodão. Em Mato Grosso, o maior produtor nacional, a semeadura ocorre a partir de janeiro. "A expectativa é atingir uma produtividade média de 1800 kg/hectare em nível nacional", afirmou Busato.

O avanço da área plantada só não foi maior porque nos últimos meses de 2022 o cenário de preços foi apresentando mudanças e deixando os produtores mais cautelosos. Depois de uma recuperação forte com o fim do período mais crítico da pandemia, agora produtores se deparam com as preocupações em relação ao desempenho da economia em países que são grandes consumidores da pluma. Os dados mais recentes do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) confirmam a expectativa de redução no consumo global do algodão, agora estimado em 24,3 milhões de toneladas para 2022/2023.

Setor busca a liderança nas exportações

Nos últimos anos o setor do algodão está cada vez mais presente em eventos internacionais para divulgar a pluma brasileira e reforçar a sustentabilidade do sistema produtivo. Hoje ocupando o segundo lugar no ranking, os brasileiros esperam ultrapassar os Estados Unidos e alcançar a primeira posição na exportação global de algodão até 2030. Para isso, buscam não apenas ampliar área e produtividade, mas também adotar práticas que sejam bem vistas por compradores internacionais cada vez mais exigentes. Estima-se que 84% da área cultivada com a pluma em nove estados brasileiros e 85% do volume colhido já tenham o selo de Algodão Brasileiro Responsável (ABR), que permite a rastreabilidade socioambiental cada vez mais exigida pelo mercado internacional.

Um dos fatores que pode ajudar o setor é o menor estímulo por parte dos produtores norte-americanos em produzir algodão na safra 2023/2024. Eles podem preferir a soja e o milho, que oferecem melhor rentabilidade e preços elevados, para compensar os custos de produção em alta.