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Rastreabilidade do café: saiba como rastrear os lotes e conheça a importância desta ferramenta

Rastrear os lotes de café na propriedade é uma prática agronômica e de gestão que permite o controle total dos processos de produção, o que vai ajudar o produtor a vender muito melhor os seus grãos, além de ser uma exigência cada vez mais demandada pelo mercado comprador. É também um processo indispensável quando o cafeicultor quer certificar seu café ou produzir grãos especiais. E mesmo sem a certificação, há compradores que já oferecem preços melhores ao produtor, simplesmente pelo fato de ter os lotes rastreados.
Quais são os principais passos para rastrear os lotes de café?
Os especialistas dizem que é simples rastrear os lotes, já que não é preciso ter um arsenal tecnológico para isso. A base do processo é feita manualmente, anotando dados dos talhões. Para pequenos produtores isso pode ser feito no chamado caderno de campo. Mas no caso de médios e grandes, o engenheiro agrônomo Eduardo Bianchi recomenda o uso de fichas que devem ficar em algum suporte protegido, até mesmo um cano em PVC, para proteger da umidade, próximo de cada etapa do processo de produção. Um passo importante é estabelecer a divisão dos pés em talhões, de acordo com suas características, por exemplo, se são cultivadas três variedades de café em área pequena, é preciso dividir a área em três talhões.
Nas fichas ou no caderno é fundamental anotar o que, quando, como, onde e por quem cada etapa da produção foi realizada. Portanto, na ficha o produtor vai anotar o nome ou número do talhão e a data em que cada ação foi feita, como por exemplo, encaminhar aquele café para a moega. Assim que o café for processado e seguir para o terreiro, repetir o mesmo procedimento, anotando na mesma ficha a data, qual talhão, quem manipulou, além de indicar o número do terreiro caso haja mais de um na propriedade. Quando for para o secador, novamente instale um suporte para deixar a ficha ali próxima e anote tudo, até ir para tulha de descanso.
No período da colheita, é fundamental identificar os lotes no terreiro, o que pode ser feito de uma forma simples, marcando os grãos com algum recipiente com um número dentro, por exemplo. É importante ainda que o produtor tenha o laudo da bebida de cada talhão, com análise sensorial e física, como o tamanho do grão e a peneira. Se for usar uma tulha grande, com vários lotes a serem beneficiados de uma vez, pode-se grampear as fichas e deixá-las todas no mesmo suporte. Dados sobre umidade, por exemplo, também são registrados aqui.
Em paralelo, o cafeicultor deve fazer o chamado “registro de aplicações~ em uma ficha separada, que não precisa ficar ao lado dos lotes. Neste documento deve-se anotar todos os produtos que tenha sido aplicados na plantação como fertilizantes e defensivos agrícolas. Também deve ficar registrada a data da aplicação e o responsável pelo serviço, podendo constar até o tipo de contrato, já que muitas empresas podem solicitar este tipo de informação com o objetivo de comprovar a sustentabilidade social daquele café. Além disso, deve-se anotar a carência de cada produto, já que cada um deles tem um prazo legal para a molécula se degrade e os frutos estejam liberados para consumo.
Para quem busca iniciar o rastreamento dos talhões ou têm dúvidas sobre o processo, existem modelos na Internet, indicando todos os dados que precisam ser coletados. O produtor também pode recorrer à ajuda de órgãos de extensão, como a Emater, que disponibiliza planilhas e métodos para a rastreabilidade em seus escritórios regionais.
Qual a principal vantagem de fazer a rastreabilidade do café?
A principal vantagem é o maior acesso a mercados compradores. Alguns podem oferecer prêmios pelo café rastreado, outros apenas exigir esta prática como requisito para fazer negócios.
Mas independentemente da exigência do comprador, vale lembrar que o sistema funciona como uma espécie de raio X de toda a produção. É possível saber, exemplo, o motivo de um lote não ter rendido uma bebida esperada, permitindo então a aplicação de medidas corretivas e a consequente melhoria da qualidade, explica Bernardino Cangussú, coordenador estadual de cafeicultura da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Minas Gerais (Emater -MG).
Ao mesmo tempo, dá para saber as razões para um determinado talhão ter obtido sucesso, possibilitando replicar a qualidade atingida em outras áreas. A prática começou a se popularizar há cinco anos, de acordo com o coordenador da Emater, embora seja difícil estimar aproximadamente quantas propriedades no país rastreiam seus lotes. Levando em conta o processo de certificação, menos de 5% das 130 mil propriedades produtoras de café em Minas Gerais, o maior estado produtor nacional do grão, utilizam esta prática agronômica, afirma Cangussú.
Outra vantagem está relacionada a qualidade. O produtor que faz a rastreabilidade de seus lotes e consegue comprovar o diferencial de qualidade dos grãos pode conseguir prêmios sobre a comercialização do seu café, afirma Allan Pimental, diretor técnico da start-up Arabyka, desenvolvedora de uma plataforma que padroniza informações sobre rastreabilidade da produção agrícola.
O custo do produtor aumenta?
Dependendo da organização do produtor e se ele já tiver algum tipo de assistência técnica, o custo para se rastrear os lotes é praticamente zero, diz Pimentel, diretor da Arabyka.
Conforme explicamos anteriormente, basta usar papel e caneta, anotar e registrar todas as etapas, algo que praticamente não tem custo. Pimentel afirma que a rastreabilidade é indicada para os cafeicultores que querem obter uma margem de lucro maior, principalmente para aqueles que almejam comercializar o grão em pequenos lotes para determinados compradores, como por exemplo, as cafeterias.
Atualmente, pequenas cafeterias também querem valorizar o grão vendido pelos produtores e buscam repassar esta informação aos consumidores. Um mercado em expansão. Assim, a rastreabilidade pode representar um prêmio médio de 5% do valor que seria pago ao produtor pela saca de café. Um prêmio que pode subir muito e chegar a 200%, 300%. “O céu é o limite”, diz ele.
Exportadores também querem adquirir lotes que não tenham resíduos químicos e pagam um prêmio por isso. Tudo isso vai ser comprovado pela rastreabilidade.