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La Niña: entenda como este fenômeno pode afetar a safra de soja e milho em 2022

A intensidade do La Niña na safra 2021-22 ainda está sendo avaliada pelos meteorologistas. Mas todos concordam que o fenômeno já se faz presente e que poderá trazer efeitos para a agricultura na América do Sul.
O La Niña ocorre quando há um resfriamento das águas no Oceano Pacífico, o que já vem sendo verificado este ano. Segundo o último boletim da Administração Nacional de Oceanos e Atmosfera dos Estados Unidos, a NOAA, há 90% de chances do La Niña continuar a influenciar o clima durante o verão do Hemisfério Sul e probabilidade de 50% de estender os efeitos até o final do outono de 2022 no Brasil.
O agrometeorologista da Rural Clima, Marco Antonio dos Santos, afirma que o fenômeno já vem influenciando a agricultura. Ele cita como exemplo o plantio mais lento da soja no Rio Grande do Sul devido aos longos períodos sem chuva recentemente, o que também trouxe preocupações para o milho de verão.
Mas a maior parte dos especialistas descarta por enquanto danos significativos para a produção brasileira de grãos e oleaginosas, que deverá ser recorde na safra 2021-22. A expectativa é de que os problemas sejam pontuais. Além da irregularidade da chuva no sul, há chance de "invernadas" no período da colheita da soja em Mato Grosso, quando o excesso de dias chuvosos acaba atrapalhando os trabalhos.
A grande preocupação é com a Argentina que, segundo Santos, tem um potencial produtivo para colher 55 milhões de toneladas de soja.
"Mas os argentinos poderão enfrentar períodos de até 20 dias de chuva, por isso acredito que a safra de soja deles fique em cerca de 48 milhões de toneladas, um nível ainda acima do registrado na última temporada” afirmou o agrometeorologista.
Para o sul do Brasil, a previsão é de uma precipitação abaixo da média, mas sem o risco de uma seca severa, portanto os efeitos na safra de soja devem ser raros e pontuais, diz o meteorologista Celso Oliveira, da Climatempo. Ele explica que outros fenômenos climáticos vêm atenuando a ação do La Niña e do El Niño.
"No ano passado, por exemplo, tivemos a ocorrência do La Niña e o Rio Grande do Sul colheu uma boa safra˜, destacou Oliveira. Segundo ele, isso ocorre também porque apesar de estar abaixo da média, a chuva que vem a cada 15 dias no sul é suficiente para garantir uma boa produtividade nas lavouras.
No caso do milho, os meteorologistas também relatam alguns riscos relacionados ao fenômeno La Niña. Isso porque o outono deve ter chuva abaixo da média em regiões como Paraná e Mato Grosso do Sul, que plantam a segunda safra. Porém, todos descartam a possibilidade de uma quebra de safra como ocorreu em 2021. Como a soja foi plantada mais cedo este ano, tudo indica que será possível semear o milho dentro da janela ideal, diferentemente do que foi visto na última safra, quando atrasou o ciclo da soja e a safrinha de milho ficou mais exposta aos efeitos do inverno mais frio e seco.
O potencial produtivo para a segunda safra de milho é de 95 milhões de toneladas, mas há o risco de que a colheita seja de 85 milhões de toneladas, de acordo com Marco Antonio Santos. Até meados de abril, espera-se uma boa quantidade de chuva, o que já garante uma produção acima do ano passado. Mas esta queda em relação ao potencial pode ocorrer se houver uma interrupção das chuvas no final de abril e maio, o que já foi visto em outros anos com a influência da La Nina. Também é esperada uma ligeira queda na produtividade para a primeira safra de milho devido às chuvas irregulares no Rio Grande do Sul.