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Incerteza sobre preços inibe aumento de área da 3ª safra de feijão no Brasil

A área cultivada da 3ª safra de feijão no Brasil deve ficar próxima à de 2020. A estimativa é do Instituto Brasileiro do Feijão (Ibrafe), que prevê o cultivo de 587 mil hectares este ano, contra 603 mil hectares semeados no ano passado. O plantio deste ciclo, que concentra as áreas de feijão irrigado no Brasil, ocorre entre os meses de maio e junho.
A expectativa inicial era de aumento de área, mas isso não se concretizou mesmo diante de uma produção per capita menor do que o consumo deste produto da cesta básica brasileira, afirmou Marcelo Lüders, presidente do Ibrafe. Havia uma projeção inicial de crescimento na área semeada, levando em conta os déficits registrados na 1ª safra, que teve um cultivo menor, e também na 2ª safra por conta da estiagem, mas a incerteza diante dos preços não incentivou os produtores a incrementar a produção.
O presidente do Ibrafe explica que os produtores não conseguem visualizar bem uma perspectiva de preço para o feijão, já que o produto não tem mercado futuro, como a soja e o milho, embora exista uma correlação entre eles. Quando os preços da soja e milho aumentam, naturalmente os do feijão em algum momento também vão se elevar. “O produtor olha o preço do feijão de hoje, comparando com o preço futuro da soja e do milho”, diz Lüders, enfatizando que há ainda falta de informação sobre o mercado do feijão no país.
Outro fator que contribuiu para o não-aumento da área semeada na 3ª safra foram os custos maiores em 2021, atualmente em torno de R$ 220 a R$ 230 por saca de 60kg, contra uma média de R$ 180/saca no ano passado, embora o valor varie bastante, dependendo da região. Os custos foram puxados pelo aumento do dólar e pelos preços do petróleo. Os produtores normalmente financiam com recursos próprios o plantio desta safra, ao contrário de outras lavouras que obtêm mais recursos, muitas vezes financiadas por empresas multinacionais.
Você sabia que a área plantada poderia ser bem maior? Isso porque o estoque do produto é pequeno e o produtor poderia armazená-lo para vender em períodos de preços mais altos, garantindo assim uma margem maior. "Na realidade, isso já vem ocorrendo nos últimos quatro anos em virtude do uso de variedades de escurecimento mais lento, permitindo que o feijão carioca - tipo mais cultivado em todo o país, representando de 60% a 75% de todo o volume da leguminosa produzido nas três safras - não perdesse valor de mercado por escurecer rapidamente" explicou Lüders.
Apesar da incerteza, a 3ª safra de feijão, que utiliza irrigação em função do período mais seco, já representa a segunda maior dentre as três safras do produto. E a expectativa de longo prazo é que a área semeada cresça diante da possibilidade de o produtor negociar e vender quando os preços estiverem mais atrativos, seja para o mercado interno ou para exportação, comenta o presidente do Ibrafe.
A produção da 3ª safra de feijão está concentrada no noroeste de Minas Gerais, no entorno da capital federal Brasília, no Vale do Araguaia, em Goiás, e no oeste da Bahia. A colheita, que começa em junho e vai até outubro, com maiores volumes colhidos em agosto e setembro, deve totalizar 780 mil toneladas, uma redução se comparada às 800 mil toneladas no ano passado, segundo dados do Ibrafe.
As três safras na temporada 2020/2021 estão projetadas para totalizar 3,1 milhão de toneladas, uma redução de 3.6% frente ao período anterior, de acordo com o mais recente levantamento da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).
De qualquer forma, o produtor deve seguir atento, pois os preços do feijão devem continuar atrativos, na visão do Ibrafe. O motivo é que a produção tem ficado abaixo da demanda, com produção total (nas três safras) em torno ou abaixo de 3 milhões de toneladas, frente a um consumo estimado entre 3,3 milhões e 3,4 milhões de toneladas. O preço médio do carioca atualmente é de US$ 39 a saca.
Além da perspectiva de preços atrativos, o produtor também pode diversificar sua produção e investir no cultivo de feijões coloridos, como o vermelho, rajado, e até o preto, que é importado e poderia ser produzido em solo brasileiro.