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Impactos da instabilidade climática na cadeia do agro - Entrevista com Claiton Santos, analista de mercado e sócio da Somma Agro

Claiton Santos, analista de mercado e sócio da Somma Agro, avalia os impactos da instabilidade climática na cadeia do agronegócio e alerta para diminuição do potencial produtivo e atraso na colheita. Confira as respostas:

1) Como a falta de chuvas vem atrasando o plantio da soja na maioria das áreas de produção, qual será o impacto na chamada segunda safra?

A alta tecnologia aplicada nas lavouras brasileiras elevou os custos de produção. Logo, o produtor precisa realizar seus plantios nas épocas que realmente proporcionam um melhor potencial produtivo para que, então, tenha uma colheita suficiente a fim de cobrir seus custos e obter lucros. É um cuidado fundamental para, inclusive, continuar investindo em novos recursos e, assim, fazendo a engrenagem do agro evoluir cada vez mais.

Para a safra agrícola 23/24, a falta de chuvas ou as incidências localizadas nas regiões Norte, Centro e Nordeste, bem como o excesso na região Sul, irá impactar diretamente a produção. Também para a segunda safra teremos impactos importantes. Ainda é muito cedo para mensurar, mas poderemos ter reduções muito importantes nas áreas de plantio, principalmente do milho e do algodão nas regiões Norte, Centro e Nordeste do Brasil.

2) Há algum risco de esse atraso acabar comprometendo os períodos de vazio sanitário?

Vazio sanitário é uma medida fitossanitária que tem como objetivo eliminar as plantas que possam germinar e se desenvolver após a colheita, evitando que doenças ou pragas permaneçam na área. Com as adversidades do clima, teremos áreas que não poderão ser plantadas em virtude do calendário agrícola. Em algumas regiões, as janelas de plantio são extremamente justas como, por exemplo, em MS e MT, onde o milho já entra logo após a colheita da soja. Ou seja, pode haver um efeito cascata, atrasando o cultivo do milho e, possivelmente, sua colheita, que ficará sujeita à incidência de novas chuvas no período. Os desafios serão muito grandes e as consequências, ou mesmo prejuízos, ainda não têm como ser mensurados.

3) A quebra da safra de milho dos EUA pode favorecer o produtor brasileiro?

Com o mercado globalizado e a demanda por alimento crescente, toda e qualquer frustração de safra nos principais produtores pode, sim, favorecer nosso mercado de milho. No entanto, a safra americana divulgada pelo USDA (Departamento de Agricultura dos EUA) no último relatório de 10/11 apontou um aumento na produção em relação ao apontamento de outubro/23, chegando a 386,94 milhões de toneladas. Na minha opinião, o que pode pressionar os preços futuros do milho estará ligado diretamente ao tamanho da área dedicada à segunda safra plantada no Brasil, considerando a possibilidade de redução e/ou desistência provocados justamente pelo atraso do plantio da soja.