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Feijão: como funciona a inoculação com bactérias, técnica que reduz custos

Embora ainda não muito utilizada pelos produtores de feijão, a inoculação é uma técnica amplamente estudada, considerada eficiente, e que pode trazer economia de custos por permitir uma redução de pelo menos 50% no uso de fertilizantes nitrogenados. Quem explica melhor como funciona a inoculação no feijão é o engenheiro agrônomo Aedyl Lauar, conhecido como Kid, gerente de Pesquisa e Desenvolvimento da Satis.
O feijão, assim como as leguminosas em geral, tem capacidade de fazer algumas associações com bactérias do gênero Rhizobium, promovendo uma interação, chamada simbiose, com o sistema radicular destas plantas e formando estruturas chamadas de nódulos, ou verrugas. Estes nódulos são capazes de absorver o elemento nitrogênio da atmosfera e transformá-lo em fonte nutricional para o feijoeiro, no processo chamado de fixação biológica do nitrogênio (FBN).
A inoculação, então, consiste no uso de algumas bactérias no tratamento de sementes que vão promover a simbiose (interação) com as raízes das plantas para facilitar a absorção de nitrogênio, elemento químico essencial e nutriente mais exigido pelo feijoeiro para que ele possa se desenvolver e produzir grãos.

Viabilidade econômica da inoculação
Muitos estudos, inclusive da Embrapa, comprovam a viabilidade econômica da inoculação para a cultura do feijão, pois com esta técnica, a aplicação de fertilizantes à base de nitrogênio no plantio e de cobertura pode ser muito reduzida, diminuindo assim o custo de produção. O feijão necessita, em média, de 80 a 150 quilos de nitrogênio por meio dos fertilizantes por hectare. Ao se fazer a inoculação, esta aplicação de fertilizantes pode ser reduzida em pelo menos 50%, diz Kid. Ele adiciona ainda que o valor da inoculação é infinitamente menor que o do fertilizante, tornando-se irrisório.
Técnica consagrada, a inoculação é vista por muitos como uma das formas de se manter a viabilidade econômica da cultura do feijão, lembra Kid. Isso porque os fertilizantes representam 50% ou mais dos custos de produção na agricultura e, deste percentual, os fertilizantes nitrogenados representam de 25% a 30% diante da alta concentração do nutriente. Uma das razões para que a inoculação não seja mais utilizada na cultura do feijão é a insegurança dos produtores, já que ainda é viável arcar com os custos dos fertilizantes nitrogenados. O cenário muda entre os produtores de feijão caupi, que já usam mais esta técnica porque este feijão é cultivado sob condições mais desfavoráveis de clima e solo, e com um custo de investimento maior.

Cuidados durante a inoculação
Não basta fazer a inoculação. Para que a técnica funcione bem e traga os benefícios esperados, é preciso alguns cuidados para garantir a sobrevivência das bactérias “boas” neste processo. Entre os cuidados, o plantio deve ser feito na época adequada, deve-se garantir uma boa correção e adubação do solo, que também não deve estar seco e, principalmente, devem ser usadas as chamadas “estirpes” (espécies) corretas de bactérias para determinados tipos (gêneros) de feijão. Além disso, as bactérias devem ser procedentes de empresas idôneas.
Outro ponto importante é que o produtor deve prestar atenção nas estruturas, os nódulos, que devem ser formados na raiz principal da planta. “Quanto mais nódulos na raiz principal, maior será a performance do inoculante, e consequentemente, menor será necessidade do uso de fertilizantes nitrogenados”, afirma o agrônomo. Isso porque à medida que os nódulos começam a se desenvolver nas raízes secundárias, distantes da raiz principal, é uma indicação de que foram formados a partir de bactérias que já estavam no solo que, por sua vez, têm baixa eficiência para o processo de inoculação.
Assim, o produtor precisa fazer um monitoramento destes nódulos, o que é indicado entre o terceiro e o quarto trifólio (aproximadamente na terceira semana após a germinação da semente). O agricultor precisa tirar a planta com uma pá com cuidado para ver os nódulos fixados na raiz, evitando que eles sejam removidos da raiz ao se fazer algum movimento mais brusco durante o monitoramento. Se houver uma boa nodulação -de oito a 14 nódulos-, indica que a planta vai ter uma boa nutrição natural de nitrogênio, podendo o produtor economizar na aplicação de fertilizantes nitrogenados. Se o desenvolvimento da planta for normal, é sinal de que não está faltando nitrogênio.
Entretanto, se em algum momento o produtor perceber que os nódulos estão perdendo a capacidade de fixar o nitrogênio, é hora de aplicar fertilizante químico. Os sinais da carência de nitrogênio incluem o amarelecimento das folhas, a redução do desenvolvimento vegetativo, ou seja, a planta para de crescer, e também por meio da análise foliar. Por outro lado, se a absorção de nitrogênio estiver regular, o agricultor precisa reduzir a carga de fertilizantes nitrogenados aplicados nas lavouras de feijão porque senão a inoculação não se mostrará eficaz, aconselha Kid.
É importante lembrar que inoculantes para a soja não servem para as lavouras de feijão, pois cada cultura exige gêneros de bactérias diferentes para serem usados na inoculação.