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Estudo inédito revela detalhes da cadeia do tomate de mesa

Você sabia que o tomate é a hortaliça mais consumida no país? Pois é, e além disso, o Brasil é a quarta nação no mundo que mais comercializa o produto. Os detalhes desta cadeia produtiva foram revelados em um estudo inédito feito pelo Cepea, da Esalq/USP, em parceria com o Instituto Brasileiro de Horticultura (Ibrahort), que representa os produtores de hortaliças. E para driblar os desafios da produção, os agricultores devem investir na melhoria da eficiência logística e da comercialização, dizem especialistas.
O tomate é um mercado avaliado em R$ 12 bilhões ao ano em vendas no Brasil, de acordo com dados de 2020 da Euromonitor. A produção nacional é muito pulverizada, com quatro mil municípios cultivando o produto em 35 principais polos produtores. Destes municípios, 200 são responsáveis por cerca de 80% da produção total. E alguns polos conseguem produzir o ano todo.
São 48,7 mil estabelecimentos rurais cultivando tomate no país, dos quais 80% são gerenciados por agricultores familiares e 20% por gestão empresarial. O cultivo de tomate em praticamente todas as regiões do país ajuda a explicar as diferenças nos sistemas de produção e de comercialização.
Cerca de 60% da produção nacional de tomate é de mesa, ou seja, para consumo in natura, e os 40% restantes são direcionados à indústria. Neste caso, as variedades cultivadas têm menos polpa que as entregues para o consumo in natura. Em determinadas épocas do ano, por exemplo, de julho a setembro, o tomate indústria colhido acaba sendo vendido como de mesa. Tudo vai depender do clima, explica Manoel Oliveira, diretor-executivo do Ibrahort.
A produção total de tomate (mesa e indústria) foi estimada em 3,5 milhões de toneladas em 2020, de acordo com dados do IBGE, praticamente o mesmo volume registrado em 2019. Para 2021, ainda é prematuro apontar estimativas, segundo Oliveira, já que houve seca e geadas impactando diferentes regiões produtoras, mas ele cita inicialmente uma redução de 5% a 10% frente a 2020.
Embora a produtividade tenha aumentado em torno de 10% entre 2011 e 2020, a queda de área plantada foi muito maior, em torno de 30% no mesmo período, de acordo com o estudo. Nas temporadas de inverno 2020 e de verão 2020/21, a estimativa é que a área tenha recuado para o menor patamar desde 2008 nas 35 principais regiões produtoras de tomate de mesa avaliadas pelo Cepea, totalizando 21.617 hectares. Em 2019, as principais produtoras haviam cultivado cerca de 24 mil hectares de tomate de mesa nos sistemas tutorado e rasteiro.
O recente recuo na área plantada é explicado pelas incertezas provocadas pela pandemia, já que a demanda caiu e os custos aumentaram por causa do câmbio. Independentemente da pandemia, a expectativa já era de queda na área diante do alto endividamento dos produtores durante as safras anteriores e da dificuldade de se encontrar áreas para arrendamento por conta da concorrência com outras culturas de maior rentabilidade. Em 2021, a tendência de redução de área continua por causa das incertezas em relação à demanda doméstica e aos altos custos de produção.
Manoel Oliveira, do Ibrahort, ressalta que o investimento para implementação da cultura de tomate de mesa no país é muito alto, em torno de R$ 12 por pé, então qualquer perda descapitaliza o produtor. Ao mesmo tempo, os tomaticultores vêm investindo mais em tecnologias e variedades que levam ao aumento da produtividade.
Apesar de o tomate liderar o consumo de hortaliças no país, a diversidade na oferta de outras hortaliças também é um dos fatores que colaboram para a redução do consumo per capita do produto, aliada à perda de renda do brasileiro, explica Oliveira. O consumo médio por habitante/ano em 2017/18 foi estimado em 4,2 kg frente aos 5 kg em 2002/03, de acordo com o IBGE.
Então, mesmo com a menor oferta provocada pela redução de área, apesar dos ganhos de produtividade, o consumo retraído acabou impactando a renda dos produtores e muitos têm saído da atividade. Os preços pagos ao produtor caíram de 30% a 40% nos últimos dois anos, enquanto os custos aumentaram em percentuais bem mais altos, cita Oliveira. Os custos com embalagens, por exemplo, ficaram quase 70% mais altos no período.
E a tendência é de que os preços fiquem mais baixos nos próximos meses diante da oferta maior que a demanda, avalia o diretor do Ibrahort. No início de agosto, porém, os preços do tomate subiram diante da reduzida oferta por conta das geadas e do frio no mês de julho, que desaceleraram a maturação das lavouras, de acordo com o boletim do Cepea.

Dicas para os produtores evitarem prejuízos
Mas o que fazer para ter uma melhor rentabilidade diante de tantos desafios? A principal ação, avalia o Ibrahort, é melhorar a eficiência logística e investir na distribuição/comercialização do produto. Na prática, isso envolve um melhor planejamento de todo o processo produtivo e da gestão. “Quando o produtor investe na gestão, ganha nas compras ao fazer o uso correto de insumos, ganha na produtividade”, diz Oliveira.
A certificação é outro caminho apontado pelo estudo do Cepea/Ibrahort para melhorar os resultados do produtor. A certificação gera um impacto direto na melhoria dos processos produtivos, já que o produtor passa a ter um maior controle da produção. Aliás, este processo é estimulado pelo varejo.
Atualmente, estima-se que somente 200 mil toneladas de tomate ao ano são certificadas, contra um volume total de vendas na ordem de 1,9 milhão de toneladas na safra 2019/2020. As diferentes modalidades de comercialização do tomate do campo até o consumidor são o ponto central para a implementação de políticas condizentes com a realidade do setor, de acordo com o estudo.
Este diagnóstico do setor recomenda uma maior coordenação entre Ibrahort, empresas de insumos, Ceasas e outras instituições governamentais para aprimorar a lei da rastreabilidade e a formalização da produção/comercialização, além da inserção de produtores e atacadistas em programas de certificação. Além disso, parcerias com as grandes redes de supermercados são muito importantes para divulgar os benefícios do tomate certificado.