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El Niño está chegando: saiba quais serão os efeitos para a agricultura

Alguns meteorologistas consideram cedo para afirmar, mas diversos institutos internacionais que acompanham o clima já consideram como certa a chegada do El Niño no segundo semestre de 2023. Este fenômeno climático se caracteriza pelo aquecimento das águas do Oceano Pacífico e costuma aumentar o volume de chuvas na metade sul do Brasil, deixando clima mais seco nas áreas ao norte do país.
“O oceano já entrou em fase de aquecimento e as condições para o El Niño poderão ser vistas já a partir de julho e, embora não seja possível estabelecer o mês exato, é fato que estará presente no segundo semestre”, afirmou a meteorologista da Climatempo, Nadiara Pereira.
Esta notícia vai mudar completamente o cenário vivenciado pela agricultura brasileira nos últimos três anos, quando o fenômeno La Niña, que se caracteriza pelo resfriamento das águas do Pacífico esteve presente. O La Niña castigou especialmente a safra de grãos do Rio Grande do Sul, que teve quebras expressivas nas temporadas 2021/2022 e 2022/2023, já que as chuvas foram escassas e irregulares. No ciclo atual, com o enfraquecimento do La Niña, as perdas se concentraram nas lavouras gaúchas e afetaram drasticamente a produção da Argetina. Porém, na safra 2021/2022 a queda na produção também foi expressiva em estados como Paraná e parte de Mato Grosso do Sul.
“A La Niña terminou na primeira quinzena de março e entramos num estágio de aquecimento, mas ele tem sido mais rápido do que se esperava, por isso as previsões internacionais já indicam que o El Niño no segundo semestre deverá ter intensidade moderada”, explicou Nadiara.
Se confirmada, a chegada do El Niño deve trazer mais chuvas para a Argentina e para o Rio Grande do Sul. Em safras influenciadas por este fenômeno, as produtividades de soja e milho foram elevadas nestas regiões, portanto a previsão é otimista para estas duas culturas. Porém, no caso da produção de trigo, ainda há risco de falta de chuva nos períodos iniciais e possibilidade de tempo muito úmido na época da colheita, na primavera, quando o El Niño já pode estar presente. “Vale lembrar também que o fenômeno traz mais risco de enchentes e tempestades na primavera e no verão”, acrescentou a meteorologista.
Na região Centro-Oeste e Sudeste, o El Niño não costuma trazer efeitos tão intensos. Por isso, a Climatempo avalia que em Mato Grosso, por exemplo, maior produtor de soja e milho do país, o risco de atraso no retorno das chuvas para o plantio da safra 2023/2024 fica reduzido e até a chance de corte nas chuvas durante a segunda safra de milho também é menor.
Já a região conhecida como Matopiba, que engloba partes do Maranhão, Tocantins, Piauí e o oeste da Bahia, poderá sofrer com falta de chuva na próxima safra, caso o El Niño realmente predomine.
Na cultura do café o El Niño traz preocupações para o conilon produzido no Espirito Santo. Já o arábica da região sudeste tende a ser favorecido por chuvas mais regulares. Na cana-de-açúcar o final do inverno mais úmido pode atrapalhar os trabalhos.
“Outra tendência é de menor chance de frio extremo, inclusive das aquelas ondas de frio mais tardias, que chegaram a ser vistas na primavera passada”, alerta Nadiara. Porém, nos meses de maio e junho não estão descartados episódios de frio, atingindo café e o milho safrinha, já que o El Niño ainda não terá se instalado.

Efeitos mundiais
Embora no Brasil o El Niño normalmente provoque mais benefícios do que prejuízos para a agropecuária, em outros países é motivo de preocupação. Na Ásia e na Oceania, a combinação do El Niño com oscilações do Oceano Índico pode provocar clima seco em diferentes áreas produtoras, afetando por exemplo a Austrália, que se destaca na cultura do trigo. A falta de chuva na Índia também poderá influenciar os preços mundiais do açúcar.
Nos Estados Unidos, o El Niño poderá provocar maior quantidade de chuvas nas áreas mais ao sul da região conhecida como Corn Belt, que concentra a maior parte da produção de milho e soja no país. “O efeito para os norte-americanos é parecido com o que ocorre no Brasil, com menos chuva ao norte, mas a maioria das áreas produtoras devem contar com mais umidade nesta safra”, afirma Nadiara.