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Cenoura: preços aos produtores podem voltar a subir

Os preços da cenoura dispararam nos últimos meses por conta do excesso de chuvas na região Sudeste e da área cultivada reduzida nesta safra. E apesar de uma leve baixa no mês de março, a expectativa ainda é de boa remuneração aos produtores.
É que há perspectiva de oferta reduzida neste mês de abril na região de São Gotardo (MG), no Alto Paranaíba, a maior produtora nacional da hortaliça, responsável por cerca de 20% da safra do país. Isso porque as chuvas abundantes nos últimos dias de dezembro de 2021 e início de janeiro atrapalharam o plantio da cenoura, o que inviabilizou a semeadura durante cerca de 20 dias, explica Guto Magalhães, superintendente agrícola da Cooperativa Agropecuária do Alto Paranaíba (Coopadap).

No verão do ano passado, que no calendário da hortaliça vai de setembro de 2020 a março de 2021, os produtores registraram um prejuízo de 57% do valor investido na cultura em função dos preços baixos decorrentes do excesso de oferta. Isso levou a uma redução de área de 40.7% para cerca de 1.800 hectares no verão deste ano na região de São Gotardo. A região recebeu no primeiro trimestre de 2022 um volume de chuvas 98,8% maior do que a média dos últimos 40 anos. No verão como um todo as chuvas ficaram 40.5% também acima da média.

As chuvas em excesso causaram uma quebra de 27% na produtividade para em torno de 1.300 caixas por hectare. E esta produtividade ficou também bem abaixo de um nível considerado razoável para a cultura, de 1.800 caixas por hectare. Os cerca de 60 produtores associados à Coopadap, que representam 35% da produção da região, colheram 320 mil caixas de 20 quilos no primeiro trimestre de 2022, menos da metade das 750 mil caixas colhidas no mesmo período do ano passado.

O preço médio pago pela caixa de cenoura (20 kg) no verão de 2022 foi de R$ 70, contra R$ 14.93 no mesmo período de 2021, uma alta de 368%. Entretanto, os custos aumentaram 50.4% na mesma comparação.
Em março, os preços de alguns tipos de qualidade de cenoura atingiram R$ 110 a caixa, mas no fim daquele mês recuaram para entre R$ 90 e R$ 95. Lembrando que dependendo da qualidade da raiz, os preços são diferentes e chegaram a R$ 120, R$ 130 a caixa, exemplifica Magalhães.
Os plantios com colheita prevista até junho já foram finalizados, representando uma redução de 40% na área cultivada frente ao mesmo período do ano passado em função das chuvas excessivas especialmente entre dezembro e fevereiro. No mês de março, porém, os plantios já não enfrentaram condições climáticas desfavoráveis. Também se espera um retorno à normalidade durante as colheitas que ocorrem entre julho e setembro. Em algumas regiões do Alto Paranaíba, as áreas cultivadas podem até crescer, puxadas pelos preços atuais. A produtividade também deve retomar aos níveis usuais a partir do fim de abril. No inverno, a produtividade já é usualmente maior, em torno de 2 mil caixas por hectare.

Apesar do cenário ainda positivo para os preços da cenoura, os produtores devem enfrentar mais aumento nos custos, que Magalhães acredita serem praticamente o dobro diante dos desdobramentos do conflito entre Rússia e Ucrânia nos preços de insumos.
Diante deste cenário, a orientação para os produtores é que procurem cultivar o produto em áreas de alta produtividade, além de fazer os plantios em locais com boa disponibilidade de água para irrigação. A produção na região do Alto Paranaíba é 100% irrigada. Outra dica é fazer uma “reserva” financeira, pois os preços altos do último verão podem puxar para uma queda das cotações na próxima temporada.

De acordo com o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea, da Esalq/USP), apesar dos recentes recuos nos preços, os patamares seguem atrativos. Estes valores de comercialização elevados mantêm a rentabilidade positiva ao produtor, ajudando a recuperar os prejuízos do primeiro semestre de 2021 e garantindo uma margem de lucro.