Luiz Henrique Bezerra Cavalcanti, assessor da diretoria para o Agrícola do Grupo Japungú, com unidades nos estados da Paraíba, Goiás e Minas Gerais.
1. Que papel a cultura da cana desempenha hoje na economia brasileira?
A cana-de-açúcar ocupa papel fundamental e estratégico no Agro brasileiro e, consequentemente, em sua economia. O setor bioenergético é responsável por milhares de empregos diretos e indiretos em todas suas regiões produtoras. Somos líderes globais em produção de açúcar e etanol, oriundos da cana-de-açúcar, contribuindo para a balança comercial e matriz energética brasileira.
2. Levando em consideração a safra atual e área plantada, como o setor vê a tendência de investimentos em tecnologia e expansão de crescimento de área e produção de açúcar e álcool para os próximos cinco anos?
Os produtores brasileiros, juntamente com entidades e empresas, são muito inovadores e atingiram níveis tecnológicos bastante altos e de destaque mundial em diversos segmentos chaves na condução da lavoura, tanto em variedades mais produtivas, mecanização, manejo em regiões produtoras, irrigação, uso de tecnologia e controle de pragas e doenças. Penso que devemos maximizar a produtividade em áreas já cultivadas, antes mesmo de “expansões” de áreas plantadas, cresceremos verticalmente, aumentamos nossa competitividade e, então, podemos ter uma expansão mais robusta e segura.
3. Quais os impactos no futuro da diversificação dos produtos derivados da cana?
Cresci ouvindo o ditado que da cana nem o vapor se perde, o que retrata a versatilidade e consequentes aplicações diversas dessa biomassa em nosso dia a dia. Os derivados diretos contribuem de forma decisiva para a matriz de receitas do setor. Alguns produtos, oriundos desta cadeia, têm o desafio de conquistar a competitividade com similares de outras indústrias, exemplo prático dos bioplásticos.
Atingir custos e escalas competitivas são desafios que o setor precisa encarar de frente. A cogeração e mesmo a geração de bioeletricidade a partir do bagaço de cana torna as plantas industriais deste setor autônomas em seu consumo e com balanço ambiental bastante favorável. Considerando todo potencial do setor, contribuímos com “algumas Itaipu´s” na geração de energia renovável.
Produtos derivados potenciais da cadeia da cana-de-açúcar, e que terão desafios técnicos e econômicos de maior escala, serão os combustíveis para aviação comercial e ainda para navegação marítima. A evolução do balanço ambiental favorável para todos os segmentos, regulamentações e exigências de sustentabilidade abrem grandes oportunidades para essa evolução e superação dos desafios atuais (técnicos e competitivos ), aumentando os leques de competitividade e receitas para o setor.
4. Quais os principais desafios que o produtor de cana enfrenta?
Os principais desafios que a cadeia produtora - indústria e produtores - enfrenta estão fortemente em linha com os desafios comuns do Agro e o setor de commodities: volatilidade nos preços, incapacidade de refletir majorações de custos em seu produto final, entre outras, são realidades “comuns” para o setor. A cultura da cana também é muito impactada por questões climáticas. Nos últimos ciclos, secas prolongadas, período chuvoso concentrado, geadas e queimadas têm desafiado a produtividade do setor.
Desafios socioambientais também têm sido cada dia mais fortes no setor e o mesmo tem respondido de forma muito favorável e sustentável, na medida em que é bastante exigido e auditado através de certificações e legislação com um balanço muito positivo para ambos os segmentos.
As políticas públicas e mesmo a geopolítica são também fatores de muita interferência no setor, pois suas implicações impactam diretamente, por vezes, nos preços finais da cadeia da cana. É o caso de preços voláteis do petróleo atualmente, políticas internas de uso maior ou menor de etanol na gasolina, incentivos fiscais para automóveis 100% elétricos, incentivos a combustíveis fósseis, entre outros, trazem cenários de incertezas para toda cadeia.
Não temos dúvidas que o setor entrega um saldo bastante positivo para os desafios que lhes são diários. Cabe uma melhor divulgação e comunicação desse “balanço positivo” para o mercado e comunidades inseridos em suas atividades e produção.